segunda-feira, 10 de agosto de 2009

A GRIPE SUÍNA, OS DEDOS SUJOS E O INVERNO

Mais uma vez, nós estamos enfrentando um problema coletivo e, que vem do mundo microscópico. O tal de vírus. Temido por alguns, desconhecido pela grande maioria e desprezado por muitos que acreditam naquilo que podem ver e pegar, como por exemplo, ratos e baratas.

O vírus vai muito além da imaginação míope de uma grande parte dos humanos, incapazes de acreditar naquilo que não é visível e palpável. A terra já foi habitada pelos gigantes dinossauros, que não sobreviveram o suficiente para nos deixar herdeiros vivos e serem apreciados no século XXI. Depois deles, vieram os animais de porte médio e ocuparam o planeta. Agora, já somos mais de seis bilhões de bípedes que ocupamos quase toda a superfície terrestre, com a arrogância de esnobar para nossos ancestrais que somos racionais, detentores de inteligência e capazes. Competentes!! Capazes mesmo !!

Já fomos a lua e outros lugares até mais distantes do universo. Nossa pegada está lá! Podemos quase tudo. É mole? Não temos asas, mas voamos. É certo que vez em quando, nossas máquinas voadoras caem, explodem, desaparecem, e com elas, matamos as centenas. Nadamos como os peixes e até melhor que eles, como bem mostrou ao mundo agora o nosso brasileirinho César Cielo.

Dominamos quase tudo nesse mundo que achávamos que era só nosso. Reconhecemos que também somos um pouco desastrados. Fomos capazes de criar a guerra para nos matar, destruir, e também apesar da inteligência, temos memória muito curta. Conveniência ou proteção? Quem pode garantir? Esquecemos-nos muito rapidamente daquilo que não nos interessa pessoalmente. Esquecemos da bomba atômica, da gripe espanhola, da gripe aviária, da peste, da tifo, e até nos esquecemos de usar camisinha. ‘Afinal, isso nada tem a ver conosco. Só acontece com os outros... Bem distante de nós. Graças a Deus!!’.

Agora, está na moda falar da tal gripe suína. Modismo!! A imprensa deve estar exagerando. Com certeza! Sempre a imprensa! Ela que é a responsável também pelas mentiras contra o Sarney, deve estar inventando ou exagerando com tudo isso que vem acontecendo lá pelas bandas do Planalto Central. Agora, gripe suína. Oras, o porco outra vez!! Isso deve ser coisa de país pobre, de gente pobre, de subúrbio, periferia, diria alguns poderosos que não acreditam na "imprensa".

Mas, nada disso é verdade. O “governo” já resolveu tudo!! Por isso é bom ter um "governo". Proibiram as aulas nas escolas, universidades, atividades das creches por um período, e pronto, tudo resolvido! O genial criador do Tamiflu até disse em entrevista que trabalha para salvar a humanidade!! Com certeza deixou até Deus com inveja. Justo ele que mandou o próprio filho há pouco mais de dois mil anos prá cá para cumprir essa tarefa... e, não conseguiu. Estranho isso não é mesmo?

Eu aqui, conversando com um caipira e semi-alfabetizado cidadão da periferia de São Paulo, acabei por ficar sem respostas para a maioria das suas dúvidas. Perguntou-me: e os campos de futebol, podemos ir? E nas baladas e barzinhos apinhado de jovens e de cinqüentões, pode? O que fazer se temos que pegar ônibus lotado, em pé, onde um respira o ar que outro solta? No trem e metrô a mesma coisa? Nas boates não pega esse tal do vírus? E nas festas de casamentos, 15 anos, batizados, cinemas e teatros... estamos livres?

Expliquei, que o "governo" não tem como impedir todas essas atividades da sociedade. Não pode e não deve intervir a esse ponto. O "governo" não tem como decretar o fim do vírus, ou sua extradição. Não tem como editar uma Medida Provisória-a tal MP, e esperar a sempre ágil votação do Congresso para resolver esse problema. Também expliquei que esse vírus ainda não produziu um boné para que o Presidente Lula pudesse ostentá-lo no jornal das oito, na telinha. Bom... falei muito com esse cidadão.

Refleti um pouco mais e pensei. Como conscientizar da importância de lavar as mãos? De não espirrar na face alheia? De não ir ao trabalho com febre? Será que não seria demitido pela falta? O "chefe" acreditaria? Tenho que levar atestado? De que? Como falo com o médico? Quando? Tem que marcar? Agendar?

Bom, o melhor é falar com esse cidadão depois de me informar mais sobre essas questões. Quanto mais simples as pessoas, mais difíceis suas perguntas. É como tentar responder a todas as perguntas das crianças. Acho que vou despistar. Já sei! Vamos mudar de assunto. Sair pela tangente, é a solução! Como dizem os adolescentes: Fui !!

Silêncio... só ouço o respiro! Engato a primeira e digo: vamos ver um pouco de TV? Aceitou, ainda bem! Oba, hora do Jornal Nacional. Mais uma vez, ainda bem. Quem sabe mais noticias... Ontem, disseram que o inverno está acabando e com ele o vírus também desaparecerá das nossas terras. Saí notícia e entra uma bomba... Opa, o que é isso!?!?! Estão brigando??? Meu Deus! Dois Senadores apontando o dedo um para o outro, e dizendo que são sujos!! Puxa!! Ouvi bem? Coronel de merda?? O que é isso, gladiadores no Senado? Que mau exemplo, credo! Nossa, justo agora que o "governo" está pedindo a todos que lavem suas mãos.

Meu companheiro, atônito, assustado, e querendo apartar a briga, se sente impotente. Brasília é longe demais. Mas, faz a parte dele e grita: Parem com isso! Vocês não têm mais idade pra ficar fazendo essas coisas na frente dos outros!!! Gritava como se estivesse repreendendo um dos seus filhos. Até entendi, afinal somos todos irmãos, e os brasileiros são assim. Corações grandes, solidários, fraternos, não gostam de brigas.

Que pena... Acho que assim essa gripe vai continuar. Senadores com dedos sujos, cuspindo um na face do outro. Deu até para ver os perdigotos. E os vírus? E se um deles estivesse contaminado com o tal H1N1 ?

É ... pelo jeito a gripe vai continuar mesmo !!

O cidadão, na sua simplicidade tenta disfarçar o constrangimento e diz: Bom doutor, já é tarde e vou indo. Maria está esperando em casa. Não quero me atrasar. Dá uns passos, e se volta perguntando: Será que a imprensa não inventou essa gripe para a gente não ver notícias assim? Essas coisas?

Fiz de conta que não ouvi e disse: dê um abraço na Maria por mim. Boa noite.

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