sexta-feira, 29 de maio de 2009

RECOMENDAÇÃO

Abaixo coloco um artigo como indicação de leitura, escrito pelo grande Prof. Dr. João Gilberto Rodrigues da Cunha no Jornal da Manhã de Uberaba. É um texto rico pela simplicidade, porém de extrema inteligência na abordagem. Prof. Dr. João Gilberto, um dos mais importantes médicos do Brasil e pertencente ao grupo dos mais habilidosos cirurgiões do mundo. Tenho orgulho de poder contar sempre que foi meu professor e, trabalhei num período ainda estudante, no Hospital São José, de propriedade da família Rodrigues da Cunha, onde o grande mestre, e o irmão José Humberto, já falecido, por várias décadas foram referência no atendimento do centro-oeste do Brasil. Como pecuarista, Dr. João Gilberto também não foi menor. Reconhecido pela coragem, pioneirismo, habilidade, astúcia e inteligência, tem o respeito de todos os mineiros e está hoje, entre uma das referências do Estado de Minas Gerais na história contemporânea.



O CRIME SEM CASTIGO



Está na Bíblia, meus leitores: não há crime sem castigo. Adão e Eva comeram da maçã proibida e foram expulsos do paraíso – é culpa deles a dureza em que vivemos eternamente.


Também o homem, que se diz ser figura de Deus, recebeu esta herança: o crime merece e tem que ser castigado. Criaram-se nesta base os alicerces da sociedade humana: crime e castigo são figuras não apenas legendárias, além de Dostoyewsky e através da cultura civilizada. A ideia do castigo não era apenas punição do criminoso, servia igualmente como ameaça e prevenção de outros crimes, a certeza de que seriam castigados. Não vou esticar filosofia nem exemplos, eles existem desde a história da humanidade. Qualquer um sabe da lei de Talião, olho no olho, dente por dente e até das punições cruéis, amputações, a fogueira, a sufocação respiratória, o afogamento – e a decapitação pelo machado do carrasco. Aconteceram erros e crueldades no castigo, a humanidade ficou mais cuidadosa no julgamento e mais leve na punição. Tudo bem até aí: permanecia vigente a ligação intrínseca do crime com seu castigo. Agora, chegamos à idade moderna que se diz humanista, caridosa e pronta para o perdão do pecado – no caso, dos crimes do pecado. Vou tentar encurtar, porque, no que se segue, tenho a vasta experiência da idade e das convivências com a atual medicina e a atual humanidade. Existe um crime, um gravíssimo crime, que a sociedade conhece e sofre, mas não sabe o que fazer, mesmo porque nossos comandantes do pensamento e da sociedade jogam este lixo debaixo do tapete. Refiro-me ao que me parece ser o maior e mais difundido crime da sociedade: a droga. Sutil, protegida e até utilizada por nossos poderosos e nossas leis, a droga invade e digere nossa sociedade, ricos e pobres, homens e mulheres, jovens e idosos, educados e ignorantes. As notícias dos crimes bárbaros e cruéis aparecem na imprensa, gente queimada viva, castrada, violentada, assassinatos com meios bárbaros... É, meu amigo, isso pra mim é o de menos, uma simples cortina de fumaça sobre o crime maior, que está na propagação, na degradação e aceitação da droga com o simples: ah, isto não tem jeito... Eu vejo a Isolina santa morrer de infarto por um irmão drogado e ladrão; a Valdete com filho assassinado e outro drogado dizendo que vai pôr fogo na casa se ela não lhes der dinheiro... que dinheiro, coitada, de uma cozinheira na vila? E os outros que se prostituem, homens usuários que devem tornam-se traficantes, como suas mulheres e, depois, seus filhos. A lei?... diz que usuário é um coitado inimputável, não pode ser preso, é vítima, não criminoso, pelo menos enquanto não roubar ou matar, fisicamente ou pelo sofrimento de pais e mães. Os traficantes? Bem, existem os multinacionais, acima e além das leis, que usam o braço dos seus aliados inferiores, criminosos, assassinos, porque a sua lei é a violência como arma e convicção. Enquanto tudo isso passa e acontece, os nossos comandantes estão desorientados, preferem não fazer nada... em certos casos que conheço, por medo puro e simples.
Curiosamente, eu já escrevi sobre isso, e sobre a fórmula de conviver e honestizar a inevitável droga. É possível conviver com a droga, aí estão o fumo e o álcool, devidamente aceitos e legalizados. Deixará de ser crime, apenas terá legislação – e quem sabe até determinadas indicações, o que já existe... Se quiserem continuar, me escrevam. Se não... caramba, Dino, vamos pescar de novo!

(*) Médico e pecuarista

http://www.jmonline.com.br/


Imagem extraída do site: http://www.anda.ca/fotos/2007/01/144931.jpg

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