NA SESSÃO PLENÁRIA DE HOJE UM DOS TEMAS PRINCIPAIS FOI A ENCHENTE EM SÃO PAULO QUE DEIXOU MILHARES DE PAULISTAS EM PÂNICO. VEREADOR PAULO FRANGE COLOCOU SUA POSIÇÃO SOBRE AS ATITUDES QUE DEVEM SER TOMADAS - ACOMPANHE:
"Senhores, gostaria de retomar o assunto que começamos ontem a respeito da Saúde, mas é quase impossível não falar de chuva e de enchentes. É quase impossível não se lembrar de que todo esse processo é histórico em São Paulo e a cada ano que passa temos mais e mais dificuldades para conter as mudanças climáticas e seus efeitos sobre as cidades, principalmente em caráter de cidade metropolitana como é o conglomerado da região metropolitana que envolve 39 municípios.
É quase impossível não se lembrar da história que até hoje ninguém nunca ouviu falar em enchente no Pátio do Colégio, onde José de Anchieta escolheu para fundar a Cidade de São Paulo. Quando lá esteve fundou a Cidade de São Paulo e ficou claro – está escrito – aqui será uma nova cidade, longe da margem dos rios. E a partir daí, desde então, sem planejamento, nunca mais planejada, a cidade foi se constituindo ao longo do eixo dos rios da cidade. Depois, na década de 50, inicio do século passado, quando a cidade dependia apenas dos trens e dos bondes, não deixando de ocupar os fundos de vale. Não tem mais área para ser ocupada na cidade de São Paulo. E aí nós, de forma muita estúpida, fomos canalizando todos esses córregos, tapando e obstruindo completamente a possibilidade dele recepcionar mais água. Hoje o conceito mais moderno é de se tratar os córregos e os rios buscando aprofundar suas calhas, alargar o seu leito, nunca obliterando por cima a passagem da água. Mantendo permeáveis suas laterais e nessas laterais ao longo desses córregos e desses rios os parques lineares que servem como amortecedores desse processo da chuva que cai rapidamente. Caiu mais de 70 milímetros na cidade, onde o índice pluviométrico não ultrapassa 1.200 a 1.400 milímetros por ano, a cada 365 dias.
Cai em um único dia, em uma única tarde, metade da chuva que cai, normalmente, no mês todo. E, quando acontece em março, não é novidade. Está na música: “São as águas de março” anunciando o fim do verão. Quem conhece, um pouco, a história do Brasil, sabe que faz parte do nosso folclore dizer que este é o momento em que as chuvas trazem a água para que o homem do campo plante o milho na enchente de São José – que é amanhã, 19 de março – para se comer pamonha e milho em São João. Comer milho em São João significa cem dias à frente, logo ao final de junho. É histórico. Faz parte da nossa música, do nosso folclore.
Portanto, não queremos justificar a enchente. Mas é possível, sim, explicar que o fenômeno climático ocorrido no dia de ontem, na cidade de São Paulo, é absolutamente fora do controle de qualquer metrópole do mundo.
Cinco mil toneladas de lixo são captadas na cidade de São Paulo. Temos de deixar nosso lixo acondicionado na porta de nossa casa mais próximo do momento em que o caminhão passa para recolhê-lo porque ontem, no momento de chuva, muitos dos sacos lotados de lixo ficaram flutuando na cidade. Portanto, temos de educar nossa população porque são esses os sacos que obliteram nossas bocas de lobo e as nossas grelhas por onde a água vai. Vejam o que aconteceu no Vale do Anhangabaú: mesmo com todas as bombas funcionando foi impossível conter a quantidade de água.
Não podemos esquecer, também, do que vimos ontem no córrego do Aricanduva, porque assusta muito. No Ipiranga mais ainda. Cada vez mais o Ipiranga vem sendo cenário desses processos. E por quê? Porque o adensamento humano, naquela região, aumentou demais. Chegou o Metrô - um sistema de transporte novo - e o conjunto de prédios novos que foram adensando aquela região, com certeza, absorveu toda a área permeável. Some-se a isso, a proximidade com o ABC, que já tem a água que vem para cá. Quem conhece aquela região, bem sabe. Quando falamos “debaixo do Tietê” estamos falando da água que vem a 18 km, caminhando desde o alto da Serra até a cidade de São Paulo por dentro do Aricanduva.
Todas as obras são caríssimas. Portanto, tem de haver a integração do Estado, tem de haver a participação do Governo Federal. Isso é região metropolitana. Só São Paulo, com dinheiro próprio, não tem condição de reduzir o impacto da enchente. A cidade de São Paulo tem, ainda, pela frente, 25 anos para continuar o investimento que é feito hoje todos os anos. É muito dinheiro para muito problema e teremos, com certeza, muitos anos pela frente com muita chuva."
Vereador de São Paulo no 5º mandato, médico cardiologista e administrador hospitalar.
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